Uma Mulher Vestida de Sol
Ano de Estreia: 1998
Sinopse:
No sertão duas famílias ligadas por parentesco lutam em demanda por um pedaço de terra entre suas fazendas. Banhados por um sol manchado de sengue, a simples sobrevivência justifica a barbárie. Isto faz da vida uma traição continua aos seres amados. Neste ambiente onde a ironia e a morte dão balanço a vida nasce o amor puro e sincero entre primos: Francisco e Rosa. Esse amor, porém, é corrosivo. A união entre os dois, prenúncio da fatalidade, é o maior desafio a lei do sertão
Ficha Técnica:
TEXTO
Uma Mulher Vestida de Sol
AUTOR
Ariano Suassuna
DIREÇÃO ARTÍSTICA
Constantino Isidoro
ELENCO
Abílio Carrascal
Ana Paula Carvalho
Bruno Peixoto
Dalva Melo
Dias Rosa
Franco Pimentel
Marcelo Sá
Pedro Vilela
Robson Parente
Verbena Dias
Wesley Martins
CENOGRAFIA E ADEREÇOS DE CENA
Anthropos Cia de Arte
FIGURINOS
Guto Viscardi
ILUMINAÇÃO
Constantino Isidoro
MÚSICA
Anthropos Cia de Arte
MAQUIAGEM
Franco Pimentel
PRODUÇÃO
Anthropos Companhia de Arte.
O ESPETÁCULO
Uma Mulher Vestida de Sol é um romance trágico de tradição literária ibérica e ambiência sertaneja, em que o relato de uma história de amor é o ponto de vista escolhido para reunir elementos vitais de uma cultura especifica.
No sertão nordestino duas famílias ligadas por parentesco, lutam em demanda por um pedaço de terra entre suas fazendas. A justiça e a policia dos homens representados por dois personagens vendidos ao poder do mais forte orientam a mediação do conflito para uma instância além do humano. Isto por que no passado Joaquim Maranhão assassina sua própria esposa acusando-a de infidelidade conjugal.
A partir dai o espirito da morta paira sobre todos que naquela região vivem e deles exige justiça, vingança. Esta morte a primeira de uma serie de sete que ocorrem na peça, representa na realidade a metáfora da violência sem limites do sertão, do sol, da seca e de seus efeitos sobre os homens.
Banhados por este sol manchado de sangue os personagens são alçados a uma estatura quase animal. Aonde a simples sobrevivência é a justificativa da barbárie. Neste contexto estão os personagens Martim e Gavião capangas de Joaquim e Caetano e Manuel capangas de Antônio Rodrigues; que ironicamente alternam conversas amigáveis com ameaças de morte na defesa de uma terra que não lhes pertence e que ao mesmo tempo lhes dá a única possibilidade de vida. Completando a núcleo dos excluídos a ironia trágica atinge os retirantes Inácio e Joana que fugindo da seca e da fome pedem à família de Joaquim pouso e comida para minimizar a longa jornada. A comida se revela de um sabor amargo pois o filho Neco ao retirar mel num oco da cerca é covardemente assassinado por Joaquim Maranhão.
A cerca em questão é outra grande metáfora da peça por representar os limites da tolerância, das delimitações do espaço do eu e do outro. Como elemento físico ela separa as casas das duas famílias e o desejo de posse da terra. Ambos os senhores de terra advogam a luta pela terra como uma obrigação sagrada de defesa à herança do filho. E embora seja este o fulcro central da ação é o amor entre os dois primos Rosa e Francisco, herdeiros das duas famílias, a metáfora maior do espetáculo e o elemento dinâmico para dimensão trágica do texto. Semelhante à estória de Romeu e Julieta a peça termina com a morte do casal. Francisco é assassinado por confiar na palavra dada por Joaquim e Rosa suicida-se ao ver o amado morto. Contudo a tragédia não reside apenas neste fato, mas na própria violência e morte condicionadas pelo sertão.
O sertão mesmo é o presságio do infortúnio dos sertanejos. E a presença misteriosa do religioso Cícero no texto aguça a compreensão da lei do sertão, formada por um código natural de sobrevivência e justiça imposto pelas condições do meio e contra as quais as leis escritas pelo homem não prevalecem. Isto faz da vida uma traição, uma traição contínua. Traição nossa a Deus e aos seres que mais amamos. Traição dos acontecimentos a nós, dentro do absurdo de nossa condição aonde a morte não só não tem sentido como retira toda e qualquer possibilidade de sentido a vida.
Neste ambiente carregado onde a ironia e a morte dão balanço a vida, ressalta a pureza do amor sincero e sentido profundamente por Francisco e Rosa. Francisco é um herói romântico, idealista, movido pelo mais profundo humanismo. Não só acredita na bondade inata do homem como defende a idéia de lhe ser possível superar as circunstâncias de opressão e libertar-se. O seu desinteresse em herdar as terras manchadas de sangue intenta a própria libertação. Ao retornar a fazenda dos pais renúncia, enquanto pode, à vingança e violência, esforçando-se para estabelecer uma nova era de paz. E este foi seu erro trágico: julgar-se capaz de promover a harmonia entre as famílias desafiando e procurando mudar a lei da violência e morte do sertão. Lutando pela supremacia da liberdade sobre o destino Francisco perde exatamente esta liberdade.
Mas se por um lado Francisco fracassa sua causa porém encontra eco na pessoa amada. Rosa oprimida pelo amor incestuoso do pai, afasta-se do convívio de todos e vive enclausurada em seu sofrimento. O amor platônico que alimenta de casar-se é corrosivo porque sabe que a união dos dois é o maior desafio a lei do sertão e a lei de Joaquim. A concretização do amor entre os amantes é prenúncio da fatalidade. Joaquim assassina Francisco e depois atraído a uma emboscada tramada pela filha é morto pela mãos de Antônio e Inácio.
- Sou uma morta, cercada de mortos solta na terra a espera da morte! Triste, é a constatação de Rosa, agora herdeira única de todas as mortes. Seu sacrifício clímax do absurdo da desesperada condição humana simboliza a interdição da lei injusta do sertão. E quanta ironia, a morte de Rosa é a mais trágica de todas e, contudo, a única necessária e indispensável em todo o espetáculo. Carregar em seu frente o fruto do amor com Francisco, torna seu suicídio ainda mais terrível, embora justificável, pois sua morte extermina não só o filho mas também a linhagem da violência. E transforma sua coragem em uma epopéia exemplar da saga de um homem lutando contra a intolerância humana.
Rosa - Uma Mulher Vestida de Sol - única cuja morte significa vida a se edificar e prosperar em uma região até então árida. Seu sangue molha a terra e dele brota uma nova era de harmonia e paz iluminadas por um novo sol cuja crença agora tem por nome a palavra: Esperança.
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