Hamlet Nos Bate a Carteira
Ano de Estreia: 1997
Sinopse:
Um palco vazio... Um tempo perdido... Solidão... Um Ator caminha sobre o palco. A cada passo uma lembrança, uma saudade. Ao notar o público sente a dimensão de sua angústia... Como que numa mesma realidade, cúmplices, fala da sua dor, de sua solidão no ato criador, fala de sua paixão... Uma lua, como símbolo de todos os que amam surge... O amor singelo que ela expressa pode estancar a qualquer dor... Mas... Ao ser tocada pelo Ator, o que era uma imagem angelical revela sob seu véu o mundo obsceno e poético de Nelson Rodrigues...
Ficha Técnica:
Textos:
Nelson Rodrigues
Direção Artística e roteiro cênico:
Constantino Isidoro
Dramaturgia:
Constantino Isidoro
Realle Palazzo
Sandro Freitas
Suail Rodrigues
Franco Pimentel
Figurinos e Adereços
Anthropos Cia de Arte
Maquiagem
Franco Pimentel
ILUMINAÇÃO
Constantino Isidoro
MÚSICA
Anthropos Cia de Arte
Produção
Anthropos Cia de Arte
O ESPETÁCULO
Hamlet nos bate a carteira é um espetáculo baseado numa crônica de mesmo nome de Nelson Rodrigues. Nele apresenta-se a crise entre o Teatro e o Homem moderno e a possibilidade de reaproximação de ambos. Composto por três histórias interdependentes, resulta em um panorama da relação entre o artista e a sua matéria criativa - em um painel da obra rodrigueana, suas limitações e possibilidades - e também uma revisão do teatro brasileiro.
O roteiro de representação tem como primeiro plano a história do Ator e a sua procura de significados durante o ato criador, o que falar, para quem falar, porque se falar. Ilumina-se a solidão deste ato, uma visão subjetiva, ou melhor do subjetivo do ator. Começando pelo fim o espetáculo torna o publico cúmplice de um ator que não quer ou não pode mais representar. A cena inicial principia com um palco vazio e negro, alguns ternos e guarda-chuvas posicionados desorganizadamente completam a impressão de algo que já aconteceu. O ator em roupas comuns, sem maquiagem ocupada o palco com uma performance muda, intencionalmente seus gestos são despretensiosos, paira no ar uma sensação nostálgica das lembranças de seus personagens, ele não “aparenta” ele “é”. O ator percebe o publico, uma música é então cantada, seus gestos que já tentam representar algo, conduzem-lhe para o limite físico do palco e da plateia. Desiste. Seu pedido de desculpa, sua confissão, sua desistência em ser “aparência” projeta por todo o espetáculo a sua impossibilidade de não ser.
A segunda linha de representação é a crônica, transformada em palavra-cena pela interpretação do próprio Nelson. Em Hamlet nos bate a carteira, Rodrigues bate contundentemente no teatro, no publico, nos teóricos e nos artista. Não escapa ninguém, ou melhor, escapa ele e os dramaturgos do calibre de Shakespeare, Esquilo e Ibsen. Escrita na década de 60, suas criticas são atualíssimas. Apresenta as complicações pelas quais passa a obra ao ser assimilada institucionalmente e conclui que as influencias e consequências de teorias não calcadas na tradição, resultam em uma obra banal com ares de renovação dirigidas a um publico de sensibilidade reduzida e de exigência diminuta. Ele pretende a preservação da aura original de assombro que a arte produz no espectador e que é atingido pela superação de uma ordem estabelecida por outra ordem de bases concretas. Além da atualidade sua crônica é um exemplo de como uma criatura pode se voltar contra seu criador, pois em sua universalidade, Hamlet não preserva nem mesmo Nelson Rodrigues, e lhe bate a carteira.
A terceira história é composta pelo panorama da obra redrigueana, baseado em quatro de suas principais peças: A Mulher Sem Pecado, Vestido de Noiva, A Falecida e Beijo no Asfalto. Cada uma destas peças é adaptada e encenada confrontando os conceitos e estéticas apresentados na crônica. Ao problematizarmos a própria recepção da obra de Nelson com sua crónica, o que nos era habitual adquire uma nova dimensão. Rodrigues torna-se estranho! E, tornar estranho, tornar dramático, é tornar conhecido.
A unidade entre as histórias não é óbvia. Todavia há um quarto e importante ponto de intercessão onde estas linhas convergem, o publico. É na dramaturgia do espectador que o teatro no século XXI recuperará sua excelência retomando a imaginação cênica e o dialogo entre os pressuposto do ator e do espectador. Assim, o Ator é aquele ente físico que espera - um jogador. A crônica é uma motivação - uma forma de jogar. As peças são o meio de... - o jogo. E o espectador aquele que vem a “ser”... - a razão do jogo o jogador.
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